sábado, 2 de outubro de 2010

ponto continuando.

olho para a espingarda sobre a mesa. sob a cama. no armário. onde estão nossas armas quando precisamos delas? esperamos sempre por um momento como este, e agora . . . e agora? olho para a espingarda sobre a mesa.

será que é assim mesmo que as coisas são?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

o que só o gato vê

Passa o gato despercebido de tudo ao redor e olha perdido para todos, mesmo quando o recinto está vazio. Porém a verdade é que nunca está, não no sentido literal de quem tem uma percepção um pouquinho mais aguçada. O vazio sempre existiu apenas como escudo para quem não tem coragem de tentar algo diferente. Aqui estão eles, sempre estiveram e sempre estarão, em cada centímetro em nossas peles, em cada célula em nossos órgãos. Aqui, ali, em qualquer lugar.

*

ele quer me tirar daqui ele quer me tirar daqui ele quer me tirar daqui ele quer me tirar daqui ele quer me tirar daqui ele quer me tirar daqui

quinta-feira, 15 de julho de 2010

um cadáver

um cadáver.idéias se repetem dentro de uma inusitada prisão.eu estou dentro de um círculo e me vejo obrigado a seguir repetindo as minhas coisinhas idiotas.espero um dia poder explodir para fora daqui,e quem sabe juntar os pedaços da carcaça e comprar logo um dicionário novo.Estou cansado do círculo,preciso sair daqui.

o forasteiro.

ponto

ponto.vírgula.uma lata meio amassada,umedecida,molhando meu roçar de dedos.passando meus dedos molhados nos lábios secos,duros,rugosos.um leve ardor nos lábios,um pouco de saliva e pontinha da língua raspando.vírgula=respirar bem fundo.ponto=êxtase.vírgula.uma lata meio amassada,eu apertando a lata.força zero,movimentos bobos e inúteis.ahhdeixchpralá.vírgula bem grande.acho melhor mover a cabeça um pouquinho.cabeça indo pra esquerda.vírgula.um canto.risada débil,engraçado.um canto ali,minha cabeça caiu de lado apontando para aquele canto.eu olhando,mole,mole.vontade de rir alto.vírgula.acho que sim,será?é,é sim.eu rindo,jeito débil.debilóide.sim,sim.dedo quente,acho que depois arde.sim,sim.ponto.

O FOASTEIROR

sábado, 10 de julho de 2010

*

ele quer me tirar daqui ele quer me tirar daqui ele quer me tirar daqui ele quer me tirar daqui ele quer me tirar daqui ele quer me tirar daqui

segunda-feira, 5 de julho de 2010

as pernas do escaravelho

... olhei ali pro chão e vi um besouro andando, um daqueles diferentes, daqueles . . . como se chamam? escaravelhos! isso, escaravelhos. Parecia de mentira, parecia colocado ali de propósito pra chamar a atenção para algum tipo de feitiçaria moderna, jogo de espelhos, truque de prestidigitador. Passava devagar sobre o chão sujo, arrastando as pernas morosamente num tédio enlouquecedor. SCRAAAAAAAZZZZZZZZCHHHHHHHHHHHHHHH. Bem devagar, parando, recomeçando, e novamente. SCRAAAAAZZZZZCHHHHHHH. Num ritmo hipnótico, misturado com alguma estática vinda de lugar nenhum. Aquelas pernas me mantêm acordado. Louco e acordado.


o forasteiro

terça-feira, 22 de junho de 2010

além na madrugada

Encontrei um homem estranho no meu sonho.Ele parecia com cheiro de coisa ruim prestes a acontecer,mais ou menos um cheiro que a gente sente do lado de dentro quando alguma coisa avisa que vai dar uma merda muito grande.Esse homem tinha um rosto que não era bem um rosto,era uma coisa que até agora não sei dizer o que era mesmo.Não sou de ficar dando bola pra sonhos,mas esse era diferente,parecia algo que não era pra estar ali.Uma interferência nos sonhos que eu deveria estar tendo de verdade,uma espécie de transmissão pirata direto pro meu cérebro.Parecia tão verdadeiro que nem falou nada,ficou lá só parado esperando eu firmar bem na memória a imagem dele.

Agora estou esperando o próximo contato.Será que ele virá?

sexta-feira, 18 de junho de 2010

prece

Resolvi proteger a cabeça e os pés. As extremidades são tão importantes quanto frágeis, a qualquer sinal de problema elas nos avisam e pedem arrego. Se não dermos bola elas nos deixarão invariavelmente na mão, e não é nada bom ser deixado na mão pelas extremidades. Por isso resolvi protegê-las de todo e qualquer perigo iminente, e de todos os maus olhados e coisas assim. Porque tudo no fim se desenrola como uma boa e velha troca de favores. Entre nós e nossas extremidades.

Não deixai os pés no chão e protegei-nos com touca. Ah, man.

sábado, 8 de maio de 2010

Aquele animal do avesso

encontrei um animal no meio da rua.Virado do avesso,uma massa vermelha e branca e meio marrom do lado de fora,e talvez a pele do animal do lado de dentro.Não parecia gato ou cachorro ou qualquer animal que fosse,parecia um monte de caos em forma de carne por fora,e talvez alguma outra coisa por dentro.Cheguei bem perto pra olhar certo e firme e não tirar nenhuma conclusão precipitada.Parecia mesmo que o lado de dentro estava por fora.Era meio vermelho.Apalpei um pouco,não estava quente,também não estava morno e nem frio.Estava morto.Ali,parado,virado do avesso.Nem cachorro,nem gato,nem foca.Apenas alguma coisa que já não era mais e agora ali jazia de fora pra dentro.

Ele não tinha mais como sorrir pra mim,então eu sorri pra ele.Foi bonito.Aquele animal do avesso.

o forasteiRo

sábado, 24 de abril de 2010

uma imagem ou mil palavras?

foto de Max Aguilera-Hellweg

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Depois da meia-noite levarei sua calma

Andei pensando em dizer algumas coisas na sua cara. Sei lá, talvez só estejam querendo desenrrugar minha pele pra transformar em cobra, mas sinceramente você já esgotou minha paciência. Não queria ter que chegar a esse ponto, mas, na boa, se eu ganhasse um real pra cada vez que te vi aí do outro lado toda excitada com a sensação imaginada de falta de segurança, babando pelos outros cotovelos enquanto pinta essa cena de perigo mocinha-bandido-sexy-te-seguindo na sua cabeça, aí sim, poderia, enfim, financiar minha ilha deserta lá onde o vinho entornou na cobra. Mas, sinceramente, você já esgotou minha paciência. Então vou fazer um favorzinho pra você, vou materializar toda essa baboseira que você imagina em medo de verdade. Medo daqueles de fazer você chorar até não lembrar o porquê. Medo daqueles que você sente quando olha no espelho e percebe que vai ser sempre assim, que a pessoa ali olhando de volta vai ser sempre a mesma, que todo aquele mundo bonito que criou pra essa que tá te olhando nunca vai passar de uma dorzinha irritante dentro da sua cabeça. Mas você vai continuar aí. Você ainda vai achar legal sentir um medo seguro dentro dentro da sua imaginação. Porque no fim das contas é só isso que te resta, tentar mandar sempre o espelho pra bem longe, e parar, e sentir aquela dorzinha irritante, e seguir. Insistentemente.

Pensando bem, eu que deveria ter medo de você. Você simplesmente não existe, e pelo andar da carruagem, dificilmente irá algum dia.

o forasteirO

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Subindo a ladeira no beco da esquina

Foi ali que enxerguei aquele pastiche de mulher da vida,menos, bem menos que isso, uma vadiazinha daquelas bem baratinhas, de dez pra menos, dependendo do T-Menos para a próxima pedra na cabeça. Essas assim fazem do jeito mais sedento,tenso e animalesco possível, e são essas que eu procuro subindo a ladeira no beco da esquina.
Foi ali que encontrei o conhecido escritor pra ele mesmo daquele bairro,em todo bairro tem um desses,bêbados,cagados,declamando poemas de qualidade literária duvidosa para desgraçados pingaiadas que só querem a próxima dose pra não terem que voltar tão cedo pra gorda das dobras infinitas esparramada em casa na frente do sofá.Talvez sejam gênios.Não os escritores para eles mesmos,os desgraçados pingaiadas.Eu poderia ser um deles,talvez um dia eu seja.Um dia.Por enquanto,e por pura falta do que fazer,continuo subindo a ladeira no beco da esquina.

o forasteiro.